quarta-feira, 24 de abril de 2013

Ser de uma sala só


Ser de uma sala só

Passou pela fenda da porta. Fitou-me com um olhar desconfiado. E eu ainda desconfigurado da última expressão do meu viver, eu estava ali em pé, enquanto ele sentou-se meio sem graça; embaraçado pela situação, mas sem perder a sua postura elegante e fina.
Eu, de certo modo estava nervoso, comecei então a falar, a me expor e a lhe explica as certezas que naquele momento eu tinha em meu olhar. Ele sorriu, ouvi tudo que eu tinha falado, expos suas opiniões, contou um pouco de suas histórias, tornou a me olhar nos olhos, desviou o olhar, e continuou a falar. Pegou aquele objeto multi-informacional, colocou algumas referências naquele documento que abriu para registrar não sei se nosso momento, ou algum trabalho escolar. Nosso diálogo silenciou-se por alguns instantes, uma outra porta se abriu, mas dela nada ousou sair. Meu coração estava inquieto, aquela situação era nova para mim, resolvemos então partir. Porém, minutos depois de se levantar ele tornou a me fitar, eu apenas o olhava, contemplava e idealizava seus lábios, e que belos lábios, seus traços eram mais finos do que eu podia esperar, sua tez era macia, descobri isso quando ousei o tocar, meu corpo respondeu quase que de imediato, havia algo muito mais forte ultrapassando o nosso ser, nos primeiros passos que demos, uma grande coragem surgia dentro de mim. O toque, o seu encostar, o local, tudo ousará rodar, a minha decência por onde podia estar? Não sei! Só sei que aquele ser me trouxe algo além do que o meu bel prazer.
Muitos segundo se passaram, o momento continuava a florescer, algo dentro de mim estava diferente, algo novo havia sido implantado por aquele ser. As mãos que suavam, a mente que não discorria, meu palpitar estava muito eloquente, meus lábios só queriam o beijar. Meus braços o queriam abraçar, era algo estranho, uma nova sensação, tão reconfortante, agonizante e sem nenhuma explicação que estavam a me fazer borbulhar no meio de um oceano sem razão. Havia um novo sentimento pairado no ar. No entanto, ele parado em minha frente só sabia me olhar, por fora eu estava sério, descontraído, sorridente, mas por dentro, minha entranhas já estavam retraídas, meu fluxo seguia acelerado, lento, parado, agitado, já não sei explicar, só sei que ele também poderia se expressar, assim saberia que eu não era o único que estava agonizando. 
Era muito mais que tesão, era a própria contemplação de algo que não sabia explicar. Eu só estou aqui tentando narrar algo que eu não sei decifrar, pois além daquela fresta da porta, havia uma canção, uma canção que eu fiquei a ouvir mesmo quando ele estava a me iludir. Agora, eu vejo que toda a minha narrativa ocorreu dentro de apenas um espaço, de uma sala chamada coração, sendo sugada pela razão.
GOMES, L. S. 

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