Parabéns
a outro alguém
A minha idade, o tempo que passa, o mundo que
não retorna, o dissipar do segundo, a fantasia de um aluno, o momento oportuno,
na estrada que fica hoje, eu não me reconhecia.
As músicas que tocam, são
quase as mesmas do passado, a Elis ao fundo que divide o palco com Marisa,
Adriana, ou quem sabe Cazuza, uma herança que não se rotula, mas que vem por
baixo da blusa.
A minha mãe que me liga, ouço uma velha amiga que fica a ligar tanto para desejar aqueles nobres Parabéns
que se desejava escutar, quanto para me dizer que eu estou a me desesperar, e
que devo imediatamente parar.
Minha angustia fica a
aumentar, porque todos dizem que eu seria de “arrebentar”, mas ninguém me
perguntou se eu queria apenas profanar, ou fantasiar em uma pequena noite no
bar, ou sei lá eu por onde, na real, eu só queria estar longe.
Longe meu instinto me leva,
mas a saudade me aleija, volto, e ouço quem sabe o Tom dizendo que a vida é pau
é pedra é o fim do caminho, mas quem disse que eu teria chegado ao fim do
caminho quando minhas linhas só estavam a comprovar que eu estava a envelhecer
e não a morrer (propriamente dito), eu só queria poder dizer: “amei até
morrer”, ou algo assim, menos exagerado, “sou louco por não ter nenhuma
obrigação por fazer”, mesmo sabendo que o mundo não para quando seu coração
está quebrado, já diria o bom Shakespeare.
No fim, é apenas mais alguma
ingratidão daquele que deveria amar o mundo sem nenhuma razão, mas eu teria que
dizer que a cama de linho branca, a pouca luz, ao som de Piaf a cantar, e um
vinho a tomar seria uma cena clássica para quem deseja se matar, no entanto, a
fome de transcender, e estourar é algo bem maior, mesmo sabendo das implicações
dessas alucinações, porém eu não deveria terminar sem ao menos citar o meu eu
que segue a cantar algumas balbucias de
um coração a sangrar por estar só, sem muito poder poetizar.
Na falácia de meu desejo, os
cortejos do meu eu a caminhar, sem muita esperança de voltar, pois a chama
tende a se apagar.
Apaga-se as tristezas e até
as chamas de um eu a profanar, mas nunca as chamas deste meu eu a me apaixonar.
Parabéns por você ser de algum lugar, espero que no teu retornar você possa
encontrar em fim o seu lugar.
GOMES, L. S.