Fere-me
Fere-me com ações retorcidas e com palavras
mal ditas, que do nada jamais serão reproduzidas.
Fere-me com toques suaves e noites selvagens a
fim de reconhecer-me em pedaços com muitas traças.
Fere-me a cada novo entardecer, porque no seu
aparecer, fica muito mais nítido este meu te querer.
Fere-me por cada dia que teimo em lhe ter
como um velho amigo, sempre renascido de um velho sofrer.
Fere-me além das cicatrizes desta minha
carne, para que nas feridas de minha grande alma eu possa simplesmente te ter.
Fere-me muito além de todas aquelas palavras
ditas e não ditas, seguindo apenas as manias deste velho e simples coração.
Fere-me muito além do meu corpo, fere-me
também no seu corpo e fere-me na presença desta sua ausência baixando-me a
essência de não ter mais nenhum fragrância dessa sua essência.
E no fim, apenas fere-me na alegria de um
machucar sem se machucar para que no meu sangrar você possa ver que eu sigo
ainda a te amar.
GOMES, L. S.

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