A DESESPERANÇA
E quando nossos corpos
estiverem retalhados e jogados em sarjetas, vielas e terrenos baldios, que pelo
menos algum ser superior nos conceda algum repouso.
E quando a barbárie se
instalar, que ao menos tenhamos força para morrer com dignidade.
E quando nossos entes queridos
sintam nossa falta, que encontrem alguma força para acalmar seus corações
inquietos.
A minha pele é negra, mas meu
coração é pulsante como de qualquer um.
Meu corpo é feminino, mas meu
cérebro é tão grande e seguro como de qualquer um.
Minha sexualidade é a
realização pessoal que não é exposta a qualquer um, assim como deveria ser com
qualquer um.
A escolha de me perseguirem é
incompreensiva para mim, mas espero que após minha partida eu possa pelo menos
descobrir o porquê de viver assim.
E quando em nome da família, de
“Deus”, e dos bons costumes minha pele for dilacerada, eu possa no finito
momento refletir, a beleza que eu vivi seguindo o que era certo para mim.
É a desesperança que me assola,
é o pensar que tempos sombrios virão, e que meu corpo será o objeto de alguma
perseguição.
O último pedido que tenho a
fazer, é que alguém, qualquer um, faça uma pequena oração em nome daqueles que
se vão em nome de um Deus que não é São.
GOMES, L. S.
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