sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

O eu retorcido

O eu retorcido

Deito-me sobre escombros daquilo que um dia fui.
Desejo a queda livre sem um retorno.
Debruço-me a beira deste lago.
A demência é próxima. O caminho beira o chão.
Os entulhos recaem sobre velhos ombros cansados e feridos.
O desespero bate à porta, a janela estronda com o grito de nossa dor.
Os estilhaços machucam aquela face que um dia sorriu.
Chora. Grita. Rola e deixa sangrar. Expulsa os demônios para fora do teu lar.
A casa outrora gigante, hoje pequena como algo de ninar.
Canta. Embala. Sonha e afaga minha face, porque hoje eu vejo tua luz.
Cai. Permaneço por aqui, e um dia hei de ressurgir pelas mãos daquele que me fez cair.
O eu retorcido preso em um conflito daquilo que frito.
Fritar o que passou pelo que vai ser, mas tudo resplandece sobre um presente fincado dentro deste ser.

GOMES, L.S.